Retrospectiva Etanol Hidratado 2022: Os movimentos e seus fundamentos
Conforme dados divulgados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), de janeiro a novembro de 2022, foram comercializados 14,2 milhões de m³ de etanol hidratado, volume -8,52% menor do que o registrado no mesmo período de 2021 (15,5 milhões de m³). Desse total, 12,8 milhões de m³ foram comercializados na região Centro Sul e 1,4 milhões de m³ na região Norte-Nordeste do Brasil. A safra 2022/23, até o mês de novembro, totalizou 10,5 milhões de m³, volume -1,1% menor do que o comercializado até novembro da safra anterior (10,6 milhões de m³). Inclusive, esse é o menor volume registrado (abr-nov) desde a safra 2018/19.
A comercialização de gasolina por sua vez, ganhou impulso no ano de 2022, até o mês 11 foram negociados 38,6 milhões de m³ de gasolina comum, frente a 35,2 milhões de m³ em 2021.
O ano de 2022 foi marcado por fatores que impactaram fortemente o mercado de biocombustíveis, como a guerra entre Rússia e Ucrânia que teve início no mês de fevereiro, elevando os preços do barril de petróleo a US$ 135, trazendo volatilidade ao mercado e disparada dos preços do combustível fóssil. Com isso, a Petrobras fez alguns reajustes nos preços da gasolina no Brasil, favorecendo o abastecimento com o EH na bomba nos principais estados brasileiros, ajudando o biocombustível a recuperar a sua comercialização. De janeiro para fevereiro houve uma alta de 15,8%, e fevereiro para março, aumento significativo de 31,2% no volume vendido.
Outro fator importante, foi o atraso de início de safra que também impactou nos preços do produto, e consequentemente na sua comercialização. Devido aos problemas críticos em decorrência da seca e dos incêndios que atingiram as lavouras em 2020 e 2021, os produtores optaram por adiar a colheita de cana-de-açúcar na safra 2022/23 com a expectativa de que ela se desenvolvesse melhor. Diante disso, a oferta do produto diminuiu no mercado, pressionando os estoques e fazendo com que o EH atingisse níveis elevados nos preços de comercialização no mês de abril. O etanol passou a ser menos competitivo para o consumidor final, tornando-se economicamente menos favorável para o abastecimento ao longo das semanas do referido mês, elevando a paridade acima de 70% em todo território brasileiro. No mês de abril, houve uma queda de -8,4% no volume comercializado, comparado ao mês anterior.
No início do mês de maio, os preços do etanol hidratado ainda estavam em alta, devido a pouca disponibilidade do produto no mercado. Além disso, em maio, a Petrobrás fez um reajuste nos preços do diesel, elevando a expectativa de que fizessem também nos preços da gasolina, pois a defasagem do combustível fóssil em relação ao mercado internacional, passou de R$1,00/L em determinados momentos, o que contribuiu para que os preços do EH se valorizassem, visto que o produtor pretendia receber mais pelo produto se este reajuste de fato acontecesse, já que, o preço da gasolina mais alto, contribui para que o etanol também se valorize. O volume comercializado em maio, recuou -6,9% com relação a abril.
Em junho, a paridade entre etanol hidratado e gasolina comum voltou a favorecer o biocombustível, já que ela se manteve abaixo de 70% durante todo o mês. Devido aos elevados preços do petróleo e a valorização do câmbio, a Petrobrás reajustou os preços da gasolina em R$ +0,20/L, fazendo com que a paridade no estado de São Paulo, finalizasse o mês em 65,69%, com diferença em R$ 2,30/L entre o fóssil e o biocombustível. No estado de Minas Gerais, esse diferencial ultrapassou o valor de R$ 2,50/L. No mês de junho, o volume teve um aumento de 3,3% sobre a quantidade negociada em maio.
Além desses motivos, o ex-presidente do Brasil que tentava uma reeleição, aprovou duas leis complementares (LC 192 de 2022 e LC 194 de 2022) em julho, que diminuiu as alíquotas do ICMS dos combustíveis e desonerou os impostos federais (Pis, Cofins e CIDE). Essas mudanças, beneficiaram a comercialização de gasolina, já que os impostos incidentes sobre o combustível fóssil são maiores do que os que incidem sobre o biocombustível. Mesmo diante de um período de maior oferta de EH no mercado, onde o produto é negociado com preços mais atrativos, a decisão de desonerar os impostos reduziu a sua competitividade. O volume total comercializado no mês de julho, foi -1,7% menor do que o registrado em junho.
Em agosto, o volume de EH comercializado foi -4,3% inferior ao volume de julho, já que o impacto das mudanças tributárias ainda era sentido. Mesmo com os preços do biocombustível em queda, a paridade se manteve se manteve em uma média de 70,96% no mês.
No mês de setembro, com a queda nos preços do hidratado, a paridade voltou a favorecer o abastecimento com o biocombustível na bomba (68,37%), e com isso, o volume comercializado apresentou uma recuperação de 5,3% com relação ao mês anterior.
Essa demanda um pouco mais aquecida vindo do mês de setembro, somado um regime de chuvas consistente nas regiões produtoras de cana-de-açúcar no mês de outubro, contribuíram para a valorização nos preços do hidratado, que desde a primeira semana do mês de outubro manteve a paridade alta, se distanciando do percentual exigido para que o etanol seja mais favorável ao consumidor final, reduzindo em 3,3% o total negociado em outubro, com relação ao mês anterior.
Mesmo com os preços recuando em novembro ao longo das semanas, a paridade média do mês ainda estava acima de 75%, o que teoricamente, já diminui a demanda pelo biocombustível, resultando em um recuo de 6,5% no volume vendido no mês de novembro, comparado ao mês de outubro.
A ANP publica no último dia útil do mês atual, os dados referentes a vendas do mês de dezembro de 2022. É importante ressaltar que os preços do etanol hidratado se mantiveram firmes ao longo do mês, e a paridade continuou seu movimento de alta (76,88%), com isso, a tendência é de que o volume total comercializado tenha apresentado recuo. Uma oferta mais restrita no último mês do ano, com a expectativa de que os impostos retornassem a partir de janeiro garantindo um diferencial atrativo para o consumo do hidratado, deram suporte para a valorização do produto.
Análises realizadas pela área de Inteligência de Mercado da Canex…
#agronegócio #açucar #etanol #industria #exportação #importação #brasil #safra #retrospectiva
