Cana de açúcar BT e o impacto no setor sucroalcooleiro

Por: Talita Cavalcante – Trade Execution
Data: 14/out/2021

O Brasil é um expoente mundial do complexo sucroalcooleiro, exercendo liderança na produção de cana e, consequentemente, açúcar e álcool – ocupando o segundo lugar na produção global de etanol de cana-de-açúcar, com produção de aproximadamente 29,8 bilhões de litros segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab, 2020), ficando atrás apenas dos Estados Unidos. No entanto, dadas as adversidades naturais do processo de cultivo, grande parte desse feito está relacionado às biotecnologias e à produção da chamada cana Bt, que é a cana-de-açúcar sobre a qual exerce-se a modificação genética a fim de torná-la tolerante a herbicidas e resistente aos insetos que são altamente danosos e que podem comprometer o rendimento da produção e performance de safra.

O termo Bt é cunhado em razão de um gene da bactéria Bacillus thuringiensis, qual é insertado na cana e a partir da recepção desse gene a mesma passa a produzir proteínas inseticidas tóxicas que estimulam a defesa natural sem promover qualquer efeito nocivo sobre humanos e outros organismos.

Esse procedimento de modificação genética foi desenvolvido pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), tendo sido aprovado para uso somente a partir de junho de 2017 pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) com intuito de verter plantios de cana resistentes especialmente à broca-da-cana. Esta trata-se de uma praga que infecta a planta durante seu estágio larval e que tem um ciclo total de imprecação que pode durar até 90 dias, sendo comum à ocorrência de 4 a 5 gerações nas lavouras por ano. O desenvolvimento da broca-da-cana se dá devido a altas temperaturas e grande volume de chuva, principalmente na primavera e no verão. A partir de então, o Brasil logrou ser o detentor da primeira cana transgênica liberada amplamente para comercialização no mundo, o que é um marco para a Biotecnologia nacional. A saber, o Brasil ocupa a 2ª posição mundial em adoção de biotecnologia, impulsionando substancialmente a produção de culturas como milho, soja, algodão e, claro, a cana-de-açúcar.

Entretanto, essa não é uma realidade global. Alguns consumidores, por falta de conhecimento e/ou conceitos distorcidos, ainda são reticentes quanto aos produtos GMO (Genetically Modified Organism) 1 . Países europeus, por exemplo, ainda não permitem desenvolver GMOs, embora aceitem receber, com ponderação, importações de produtos GMO. Essas restrições acarretam o aumento do poder de barganha.

No cotidiano de nossas atividades de exportação de açúcar, por exemplo, não é incomum recebermos a solicitação do Certificado NON-GMO2, em vista de que alguns importadores e/ou destinos, como União Europeia e Colômbia, ainda requeiram que produtos GMOs sejam gerenciados e monitorados.

Assim, atendendo à essa demanda, em 2020 foi apresentado pela UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) o modelo atualizado deste certificado desenvolvido a partir de um trabalho em conjunto com o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), que em linhas gerais admite que uma determinada produção de açúcar ainda que proveniente de cana Bt é, porém, um produto seguro e sem comprometimento de sua qualidade. Esta certificação encontra-se validada e consolidada tecnicamente pela CTNBio.

Com todo o acima exposto, entendemos como a implantação da cana geneticamente modificada permite a expansão da cultura da cana no Brasil impactando nossos negócios, mesmo que indiretamente. Também podemos considerar como benefícios, além dos já mencionados, a disponibilidade anual da produção, precificação competitiva, economia de água e outros insumos e ainda uma maior segurança ao meio ambiente e ao agricultor que, dessa maneira, é menos submetido à exposição de defensivos agrícolas.


*Cabe ressaltar, após consulta a uma usina parceira da Canex/Larine, sabe-se que embora o uso da cana geneticamente modificada já seja uma realidade nacional, há players que ainda rejeitam o uso da cana Bt e que seguem desenvolvendo seus estudos e análises, sobretudo pelo forte estigma do termo “transgênico”.

1 São organismos manipulados geneticamente de modo a favorecer características desejadas. Os OGMs possuem alteração em trecho(s) do genoma realizadas através da tecnologia do RNA/DNA recombinante ou engenharia genética.
2 Sigla para não-geneticamente modificado.

Blog Canex

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