Aproveitamento de resíduos e sustentabilidade no setor sucroenergético

A agroindústria sucroalcooleira representa 2% do PIB nacional e o peso do setor equivale a 10% do valor bruto total do agronegócio. Esses dados, mesmo atuais, fazem parte da tessitura histórica do cultivo de cana de açúcar como atividade econômica do Brasil desde o século XVI, quando foi introduzida a cultura canavieira em nosso território.

Não obstante, e à revelia das adversidades enfrentadas no curso da história econômica brasileira, ao longo da linha cronológica diversas iniciativas têm caráter impulsionador da produção da cana, como é o caso da criação do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), em 1933, que surge com o intuito de fomentar e controlar a produção, bem como apresentar alternativas ao setor sucroalcooleiro frente aos efeitos da crise de 1929, e o Proálcool, em 1975, em alternativa ao consumo de derivados de petróleo e objetivando diminuir o peso da importação de petróleo frente à inflação dos preços internacionais – é nesse período que a indústria nacional canavieira encontra finalidade insigne: a elaboração de etanol carburante, tema que foi agenda de política externa e diretrizes diplomáticas do Brasil para sua consolidação no mercado mundial, dando ao etanol brasileiro projeção internacional.

Nesse contexto, o volume de produção e o processamento da cana aportam dinamismo para toda a cadeia, incluindo a criação de empregos formais durante safra e entressafra, considerados efeitos diretos, indiretos e induzidos, garantindo oportunos benefícios para o país.

Assim, visando atender às demandas de abastecimento do mercado interno e externo, o Brasil é esse expoente da produção de cana e seus derivados, ocupando posição de liderança mundial no setor. A saber, os mais recentes levantamentos da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2021) indicam 568.430,2 mil toneladas de cana colhidas referente à safra 2021/2022, o que viabiliza uma produção de aproximadamente 24,8 bilhões de litros de etanol em 2022, enquanto a estimativa de produção de açúcar no mesmo período é de 33,9 milhões de toneladas.

Diante de números pujantes e significativamente positivos, desde uma perspectiva econômica, não se pode simplesmente olvidar os impactos ambientais promovidos paralelamente ao processamento industrial da cana em suas múltiplas etapas de beneficiamento. Tais impactos são sobremaneira expressivos, principalmente associados à atmosfera, ao solo e à água. E este é um desafio dissonante do setor, pois, se por um lado o etanol destaca-se em ser ecofriendly, em alternativa à descarbonização já que reduz em até 90% a emissão de C02, por outro lado sua produção, bem como a produção de açúcar, gera grande quantidade residual – bagaço, vinhaça, água de lavagem e torta de filtro – que devem passar por tratamento e descarte adequados, pois, ademais da questão ecológica, podem também promover aumento de pragas e, consequentemente, prejuízos financeiros.

Além disso, com a agenda internacional cada vez mais voltada à pauta ambiental e com forte apelo ao compromisso coletivo pela redução da poluição, em razão de fenômenos associados à mudança climática – o Brasil é signatário do Acordo de Paris e firmou compromisso pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS/ONU) -, cabe a toda cadeia um olhar atento ao manejo dos despojos frente às possibilidades de aproveitamento desses resíduos. E isso já é uma realidade e compromisso do setor sucroenergético brasileiro.

Buscando uma saída e encontrando uma via pela ciência e tecnologia, é possível primar pela transformação de resíduos em insumos para a produção de outros bens. Dentre eles, fertilizantes de solo, etanol de segunda geração (E2G), cogeração de energia elétrica, biometano (substitui diesel na frota dual fuel) e até mesmo plástico biodegradável, contribuindo assim para a sustentabilidade do setor que, além do investimento voltado à recuperação e proteção ambiental, tem adotado melhores práticas de governança, que são indicadores primordiais da sustentabilidade. Além disso, pode maximizar valor e fazer maior uso do ativo industrial.

Claro que se trata de um desafio, principalmente considerando o alto custo e os entraves técnicos que precisam ser disseminados para o amadurecimento da prática. Doravante, especialistas apostam na ampliação de novos mercados para a carteira de negócios a partir desses subprodutos, mas este é um tema que fica para um próximo post.

Análises realizadas por Talita Cavalcante – Trade Execution Canex
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